Estátua do Monumento a Luís de Camões

Ao Encontro de Luís de Camões em Lisboa

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Esta semana temos uma sugestão de passeio, um percurso ao encontro de Luís de Camões em Lisboa. Passaremos por locais onde o poeta terá deixado sinais da sua vivência e também nos sítios que os que o louvaram escolheram para o imortalizar.

O famoso poeta português do séc. XVI dispensa apresentações. A sua obra encontra-se há muito traduzida em diversas línguas e a qualidade dos seus escritos é equiparada à do escritor inglês William Shakespeare.

Mas se a sua obra é conhecida e tem dado ao longo dos séculos origem a diversos e importantes estudos, os factos da sua vida são particularmente obscuros.

De origens incertas, data de nascimento e local desconhecidos, Luís de Camões, constitui-se há muito como um verdadeiro mito. Se a sua existência é certa, os factos que se contam sobre ele são, quase sempre, não documentados.

Ir ao encontro de Luís de Camões em Lisboa passa, em primeiro lugar, por procurar sinais do seu possível retrato.

Faça uma visita guiada às zonas históricas de Lisboa e conheça locais imperdíveis desta magnífica cidade.

Retrato de um Mito

Terá nascido em Lisboa em 1524 e morrido na mesma cidade em 10 de Junho de 1580. Seria certamente um erudito com formação clássica já que dominava o latim, a literatura e a história antiga, conhecimentos patentes na sua produção literária.

Teve fama de homem de espírito apaixonado, arrebatado, excessivo, com gosto pela boémia. Militar combativo mas desafortunado, viajou pelo Oriente onde terá escrito o poema épico Os Lusíadas.

De regresso a Lisboa, conta-se que terá lido a longa epopeia ao jovem rei D. Sebastião que lhe terá atribuído uma pequena renda, mas julga-se que sofreu dificuldades no final da sua vida. Os Lusíadas foram publicados em 1572 com o apoio do rei, mas a valorização da sua obra viria pouco tempo depois da morte do poeta, pela mão de Filipe II de Espanha que promoveu a reunião e publicação dos seus restantes escritos.

A glória de Luís de Camões viria mais tarde, sendo particularmente exacerbada pelo romantismo do séc. XIX, que destacou não só a sua obra, mas também a sua imagem simbólica de génio-mártir cuja pátria ingrata não soube apreciar e valorizar.

Cromo de Luís de Camões. Cartolina de origem francesa, oferecida como brinde na compra de chocolate em pó, c. 1900.
Cartolina de origem francesa, oferecida como brinde na compra de chocolate em pó, c. 1900. Imagem gentilmente cedida pelo coleccionador Luís Bayó Veiga

Apesar dos acontecimentos da sua vida serem obscuros e cada momento da história o valorizar de forma diferente, o certo é que a sua obra é incontornável tanto na literatura ocidental como na fixação identitária da língua portuguesa.

Este facto faz com que se associe o seu nome e a data do seu falecimento à comemoração do próprio dia da pátria, 10 de Junho – Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Assim como ao Prémio Camões, considerado o mais importante prémio da literatura concedido a autores de língua portuguesa.

Vamos, então, ao encontro de Luís de Camões em Lisboa e damos-lhe um excelente pretexto para experienciar os três ascensores num só dia!



À Descoberta de Sinais

Iniciamos o nosso percurso subindo a Calçada de Santana. Esta íngreme artéria estende-se mais ou menos entre o Largo de São Domingos e o topo da Colina de Santana.

No n.º 139, um edifício demasiado recente para ser contemporâneo de Camões, exibe uma placa datada de 1867 com a indicação que ali viveu e morreu o poeta em 1580. Será possivelmente a memória de uma tradição oral que o proprietário do imóvel teve a ousadia de passar a pedra.

O nº 139 da Calçada de Santana, um edifício demasiado recente para ser contemporâneo de Camões, exibe uma placa datada de 1867 com a indicação que ali viveu e morreu o poeta em 1580.
Nº 139 da Calçada de Santana

Chegados ao cimo da Calçada seguimos para a Rua do Instituto Bacteriológico. E logo, à nossa esquerda ergue-se um edifício do Instituto que dá o nome à rua. Este era o lugar do antigo Convento de Sant’Ana, local onde o poeta terá sido sepultado ao que tudo indica em vala comum. Essa e outras informações menos claras são dadas por uma placa aqui  colocada pela Câmara Municipal de Lisboa em 1935.

Placa da Rua do Instituto Bacteriológico
Placa da Rua do Instituto Bacteriológico

Menos polémica será outra placa que junto à anterior exibe um perfil de cobre de Luís de Camões, responsabilidade do Grupo Amigos de Lisboa que ali a colocaram em 1972 aquando do IV centenário da publicação de Os Lusíadas.

Placa do Grupo Amigos de Lisboa
Placa do Grupo Amigos de Lisboa

Daqui seguimos em direcção à Baixa lisboeta. Pode apanhar o Ascensor do Lavra ou descer a pé a Calçada do Lavra para alcançar a Rua das Portas de Santo Antão onde existe o Pátio do Tronco.

Este era o lugar da antiga Prisão do Tronco e aqui encontramos um memorial a Luís de Camões assinado por Leonel Moura e promovido pela Câmara Municipal de Lisboa em 1992.

Os azulejos do túnel de acesso ao pátio valorizam um espaço de má memória, local onde o poeta foi obrigado a permanecer vários meses após se ter envolvido numa rixa de rua. Talvez um dos poucos factos documentados da sua vida.

Memorial a Luís de Camões no Pátio do Tronco
Memorial a Luís de Camões

Glorificação do Mito no Coração da Lisboa do Séc. XIX

A glorificação feita a Luís de Camões pelo espírito romântico dos políticos e intelectuais do séc. XIX, traduziu-se nas homenagens e nos monumentos erigidos ao poeta aquando das comemorações do III centenário da sua morte.

Vamos ao seu encontro!

Atravessando agora a Praça dos Restauradores desfrutemos de mais uma viagem noutro dos  tradicionais Ascensores que facilitam ultrapassar os acentuados declives desta cidade de Sete Colinas, desta vez o da Glória. Resta-nos descer a Rua da Misericórdia para chegarmos ao nosso destino, a Praça de Camões.

O monumento aqui erigido deve-se à iniciativa de intelectuais de relevo que em 1867 o inauguraram com a presença do rei D. Luís e do seu pai D. Fernando.

Trata-se de um conjunto escultórico constituído por uma estátua de bronze do poeta que assenta num pedestal de forma octogonal. Cada um dos vértices exibe uma estátua de um vulto notável da cultura nacional. A saber: Fernão Lopes, João de Barros, Vasco Mouzinho de Quevedo, Gomes Eanes de Azurara, Francisco Sá de Meneses, Fernão Lopes de Castanheda, Pedro Nunes e Jerónimo Corte-Real. 

A autoria desta obra é do escultor romântico Victor Bastos (1830-1894) que também foi o responsável do 1º registo do Arco do Triunfo da Praça do Comércio.

Leia também Originais Placas Toponímicas em Lisboa onde falamos sobre várias peculiares placas, incluindo a da Praça Luís de Camões.

Monumento a Luís de Camões
Monumento a Luís de Camões

Convidamo-lo agora a seguir pela Rua do Loreto até virar à esquerda para a Rua Marechal Saldanha. Ao fundo encontra o Jardim do Alto de Santa Catarina, mais conhecido como Miradouro do Adamastor.

Aqui existe uma escultura em pedra que representa a personificação do Cabo das Tormentas na figura do gigante Adamastor feita por Luís de Camões em Os Lusíadas. Da autoria do escultor Júlio Vaz Júnior foi promovida pela Câmara Municipal de Lisboa em 1927.

Adamastor. Escultura em pedra que representa a personificação do Cabo das Tormentas na figura do gigante Adamastor feita por Luís de Camões em Os Lusíadas. Da autoria do escultor Júlio Vaz Júnior foi promovida pela Câmara Municipal de Lisboa em 1927.
Adamastor

A nossa sugestão é aproveitar para mais uma vez experienciar outro ascensor emblemático de Lisboa, o da Bica. Desça até à Rua de São Paulo e dirija-se à Avenida 24 de Julho onde o eléctrico 15 o levará a Belém.

Belém, Luís de Camões nos Jerónimos

O culminar das comemorações e homenagem dos homens do séc. XIX ao herói-mártir, aconteceu em 1880 com a trasladação dos hipotéticos restos mortais de Luís de Camões para o Mosteiro dos Jerónimos.

Aqui encontra-se, talvez um outro Luís, num magnífico túmulo com jacente, de estilo Neo-Manuelino, em paralelo a um idêntico em estilo e forma. Vasco da Gama, o navegador responsável pela descoberta do caminho marítimo para a Índia, repousa ao seu lado. Curiosamente, o seu nome foi imortalizado por Camões no seu poema épico Os Lusíadas.

Duas importantes personalidades do Renascimento português, com lugar de destaque no Mosteiro dos Jerónimos, local que não é nada mais nada menos que o Panteão Régio da II Dinastia.

Apesar de na Igreja de Santa Engrácia, Panteão Nacional desde 1966, haver um cenotáfio, memorial fúnebre, também dedicado ao poeta, a distância a que se encontra e a sua relevância não justificava incluí-lo neste percurso.

Bilhete Postal que ilustra o túmulo de Camões, anos 80.
Bilhete Postal que ilustra o túmulo de Camões, anos 80. Imagem gentilmente cedida pelo coleccionador Luís Bayó Veiga.

Os locais por onde terá passado Camões, factos documentados ou lendas, monumentos em sua homenagem de todas as épocas, na verdade serviram de pretexto para conhecermos melhor alguns recantos desta cidade. Quanto ao poeta a sua vivência está presente na sua obra e esta sobrepõe-se a todos os mitos.

Ficou assim cumprido o nosso objectivo de irmos ao encontro de Luís de Camões em Lisboa numa perspectiva diferente e mais curiosa, permitindo ao nosso leitor conhecer algumas especificidades a ele associadas e ao mesmo tempo fazer um agradável passeio.

Ah e já que está nos Jerónimos porque não terminar com uma visita aos famosos Pastéis de Belém? Depois desta caminhada bem merece. 🙂


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