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Os eléctricos de Lisboa que percorrem esta cidade das sete colinas são um dos seus elementos mais representados e expressivos.
Estes veículos constituem sem dúvida um património inestimável e um ex-libris do imaginário colectivo dos lisboetas e de quem nos visita, a par dos elevadores e funiculares.
A linha emblemática do eléctrico 28, com início na Praça Martim Moniz e término em Campo de Ourique percorrendo os bairros históricos da Graça e Alfama, é sem dúvida imperdível e a mais procurada.
Se pretende experienciar este memorável percurso e ainda conhecer o bairro típico de Alfama, berço do fado, o Lisboa: Passeio de Elétrico No. 28 & Excursão a pé é uma excelente opção.
Em Primeiros Transportes de Lisboa, revelámos as origens dos eléctricos e o seu papel revolucionário na expansão da cidade. Hoje contamos-lhe como se desenvolveram, como quase desapareceram e qual o seu papel nos nossos dias.
Ascensão dos Eléctricos de Lisboa
Críticas e Resistências
Pelas 6h00 da manhã do dia 31 de Agosto de 1901, saiu do Cais do Sodré com destino a Ribamar-Algés o primeiro carro eléctrico de Lisboa.
Mas as obras de electrificação das vias, que decorreram sem incidentes e a grande velocidade ao longo do ano de 1900, foram sucessivamente criticadas.
A imprensa acusava a Carris – Companhia Carris de Ferro de Lisboa de criar um transporte que constituiria um perigo para a população de Lisboa.
Chamadas de atenção para a perda de vidas relacionadas com electrocussão de transeuntes, acidentes por atropelamentos ou provocados por trovoadas e mesmo razões estéticas, foram evocadas numa acesa resistência à mudança.
Porém, após a sua inauguração todos os receios foram afastados. A população, muito rapidamente se rendeu a este eficaz transporte que em tudo a surpreendia.
Os Primeiros Eléctricos de Lisboa
Os primeiros eléctricos de Lisboa apresentavam carroçaria aberta com cobertura apoiada em pilares entre os quais corriam estores de lona às riscas. Constituía motivo de espanto o facto de estes veículos serem bidireccionais. A frente e a traseira eram idênticas apresentando cada uma, motor e painel de comandos independentes e os bancos rebatíveis tinham capacidade para 32 passageiros.
No final do mesmo ano em que foi inaugurada, a rede de eléctricos de Lisboa contava já com 24km de extensão, número que em apenas um ano passou para 90.
Em 1902 foram introduzidos carros maiores com o dobro dos lugares destinados a percursos lineares mais longos, chegando mesmo a haver atrelados que percorriam a grande velocidade a zona ribeirinha do Tejo.
Os carros mais pequenos continuavam a calcorrear as colinas e os bairros antigos de mais difícil acesso.
Em 1907 a Carris contava já com 240 veículos que de forma rápida, económica e regular servia os interesses de lisboetas de todos os extractos sociais.
Sugerimos uma visita ao Museu da Carris onde é possível apreciar, entre outros, o único exemplar sobrevivente dos carros elétricos abertos.
A Carris e os Ascensores
Graças a uma parceria entre a Carris e a concessionária dos ascensores foi possível substituir os funiculares que percorriam grandes e difíceis distâncias, por carros eléctricos.
Foi o caso do ascensor da Graça que ligava a Rua da Palma a São Tomé (desmantelado em 1909) e do ascensor Camões/Estrela (desmantelado em 1913). Percursos que sistematicamente apresentavam problemas e onde se chegou a assistir a descarrilamentos.
Também o elevador vertical de São Julião perdeu o seu préstimo e não passou o ano de 1915.
Estes percursos estão hoje integrados na popular carreira do eléctrico 28.
Quando em 1926 a Carris adquiriu a Companhia dos Ascensores todos os veículos passaram a fazer parte integrante da sua rede de transportes e foram uniformizados com a pintura amarela dos carros eléctricos, cor que mantêm até hoje.
Um Património em Risco
Até aos anos 30 o eléctrico foi um fenómeno em ascensão tendo a sua rede atingido os 150km, estendendo-se a zonas desocupadas que assim foi possível desenvolver através da construção de novos bairros.
Em 1940 Lisboa assistiu à realização de um grande evento que transformou radicalmente a frente ribeirinha de Belém, a Exposição do Mundo Português.
Prevendo que este evento iria atrair milhares de pessoas e que os carros eléctricos não teriam capacidade de corresponder a tal solicitação, foram introduzidos modernos autocarros para complementar a oferta de transporte.
A partir de então passam a existir novas carreiras de autocarros que tinham maior mobilidade e que sem os investimentos de infra-estruturas a que o eléctrico obriga, permitiam chegar mais longe.
O autocarro, então de cor verde, passa assim primeiro a complementar e em seguida a concorrer com o carro eléctrico. Curiosamente estes veículos chegaram a ser cor de laranja mas em 1997 quando se comemoravam os 125 anos da Carris adoptaram o amarelo dos eléctricos.
A introdução do metropolitano em 1959 e o crescimento do parque automóvel privado nos anos 60 remeteram o eléctrico de Lisboa para segundo plano e muitas carreiras foram eliminadas. Este outrora revolucionário transporte será até acusado de empatar o trânsito quando não raras vezes ficava imobilizado devido a carros mal estacionados por condutores sem civismo.
Os automóveis não tomaram apenas o lugar dos eléctricos mas também das pessoas, das calçadas e das praças mais emblemáticas de Lisboa como a Praça do Comércio, o Rossio e os Restauradores que se transformaram em inestéticos parques de estacionamento.
Novos e Velhos Eléctricos de Lisboa
Ao longo do séc. XX os eléctricos de Lisboa foram sofrendo alterações no seu aspecto: as carroçarias passaram a ser fechadas e com um formato mais arredondado; o emblemático farol central passou a dois; foram adoptadas portas automáticas…
Mas nenhuma mudança foi tão radical quanto a introdução, nos anos 90, dos modernos eléctricos articulados que percorrem a marginal. O seu aspecto moderno equipado com ar condicionado e vidros foscos que afastam o passageiro do ambiente da rua não será o mais apelativo. A sua mais-valia reside na eficiência com que percorre longos percursos num curto espaço de tempo. Na verdade parece-se mais com um metro de superfície do que com um tradicional eléctrico.
Os sucessivos modelos foram sendo substituídos mas os actuais carros em circulação têm o mais elegante modelo dos anos 30.
Contudo já não se puxa o cabo de cabedal para accionar a campainha do stop (presente ainda nos turísticos), a cabine do condutor já não se encontra separada dos passageiros por duas elegantes portas de correr, os bancos há muito que não são de palhinha…
O “pica” desapareceu! A emblemática figura com uma mala de cabedal a tiracolo que empunhando o alicate metálico com que obliterava os bilhetes, o batia nos varões para dar sinal ao guarda-freio que estavam reunidas as condições de segurança para reiniciar a marcha.
Uma série de sons que faziam parte integrante de uma viagem de eléctrico e que se foram perdendo.
Um Ícone de Lisboa
A gestão da Carris é desde 2017 assegurada pela Câmara Municipal de Lisboa que felizmente está a apostar de novo nos eléctricos, um transporte menos poluente, carregado de charme e tradição, sem problemas de circulação numa cidade mais organizada.
Esta política encontra-se patente na reactivação da carreira 24 que hoje liga o Largo do Camões a Campolide e que emocionou muitos lisboetas que outrora diariamente a utilizavam.
Para além das carreiras funcionais Lisboa conta com carros especialmente destinados a percursos turísticos. Distingue-os com facilidade pois em vez de amarelos são vermelhos, encontrando-se também a circular um verde que tem como particularidade o facto de ser revestido a cortiça.
Os eléctricos de Lisboa são sem dúvida um ícone, parte integrante do património e do imaginário desta cidade, constituindo-se não só como atracção turística mas também como objecto com verdadeira importância afectiva para a sua população.
Curiosidade
A expressão popular “Ir a Nove” significa deslocar-se muito depressa, até nove pontos de marcha, ou seja o equivalente à velocidade máxima de um eléctrico.
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