A meio caminho entre o Castelo e a Baixa lisboeta fica o antigo Largo do Limoeiro, um local de passagem para muitos turistas. Mas sabia que nele se encerram muitas histórias interessantes?
Nesta zona assiste-se a um corrupio diário de visitantes que a pé, de eléctrico, ou de tuk tuk, percorrem o centro histórico da cidade, deslumbrando-se com as vistas do rio e com a tipicidade ainda presente na parte mais antiga de Lisboa.
Contudo, esta é uma realidade muito recente. O desenvolvimento e as dinâmicas de uma sociedade vão alterando a sua configuração e ocupação do espaço.
A origem de Lisboa perde-se no tempo, tendo sido palco das diferentes actividades dos povos que lhe foram mudando não só a feição, mas também os seus centros económicos e políticos.
O eixo que ligava a zona mais baixa junto ao rio Tejo, centro de actividades comerciais e industriais desde os tempos mais remotos, e a colina do Castelo, centro do poder político, foi sempre de grande importância até ao início do séc. XVI, quando D. Manuel I transferiu o palácio da alcáçova para o Terreiro do Paço.
Faça uma visita guiada às zonas históricas de Lisboa e conheça locais imperdíveis desta magnífica cidade.
É neste eixo que encontramos o antigo Largo do Limoeiro. Vamos contar a sua história!
Sugerimos a leitura do artigo História de Lisboa: Um Breve Olhar Através dos Tempos
O Antigo Largo do Limoeiro
Hoje ao percorrer a rua que liga o Largo das Portas do Sol, janela privilegiada sobre Alfama, à Sé de Lisboa não nos apercebemos que atravessamos o antigo Largo do Limoeiro.
Podemos imaginá-lo se retirarmos o muro com o grande portão, construído no séc. XIX. Atrás deste observamos um edifício de grandes dimensões, muito transformado ao longo do tempo onde hoje funciona o CEJ – Centro de Estudos Judiciários, que à partida não suscita grande expectativa.
Mas, se lhe dissermos que antes da conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques em 1147, já aqui existia um importante edifício, residência de um alto magistrado da cidade, construído encostado à Cerca Velha, talvez lhe despertemos a curiosidade.
Mas há mais: um Palácio, uma Cadeia, um Arbusto, um Pátio e uma Igreja, muito para contar!
Paço a-par-de São Martinho, Paço da Moeda e Paço dos Infantes
No tempo das cortes itinerantes da I dinastia, D. Afonso III aqui mandou construir um Paço Real que ficou com o nome de Paço a-par-de São Martinho, por ficar em frente à Igreja de São Martinho.
Neste paço passou longas temporadas o rei poeta D. Dinis.
Em 1338, o seu filho D. Afonso IV, ali instalou a oficina de fabrico de moeda passando o palácio a ser conhecido por Paço da Moeda.
Depois dele, D. Fernando fez grandes melhoramentos no edifício a fim de aí estabelecer residência com D. Leonor Teles, e é este o local onde se pensa que terá vindo a falecer.
É neste palco que pouco depois, em 1383, terá lugar o assassinato do Conde Andeiro, episódio do golpe de Estado e revolta popular que culminará na subida ao trono de D. João I, fundador da II dinastia.
Foi neste palácio que os filhos de D. João I e D. Filipa de Lencastre foram educados, entre eles o futuro rei D. Duarte, motivo pelo qual o Paço ficou conhecido como Paço dos Infantes ou Paço do Infante Herdeiro.
A Cadeia do Limoeiro
Na 2ª metade do séc. XV, D. João II transformou a já velha construção em sede do Desembargo do Paço – Casa da Suplicação e Casa do Cível – e em cadeia. Nessa altura, o nome do edifício passa para Limoeiro e encontra-se, desde então, relacionado com o exercício da justiça.
D. Manuel virá a promover melhoramentos após um violento terramoto, mas a degradação vai-se instalando e em 1642 a falta de condições de salubridade obriga à transferência temporária dos presos.
Como o Estado não considerava ser da sua responsabilidade o cuidado com os reclusos, estes eram simplesmente ali depositados, vivendo em condições deploráveis atentatórias da dignidade humana. O Limoeiro era assim um foco de infecções e constituía um problema de saúde pública para a cidade de Lisboa.
Com o terramoto de 1755, as obras promovidas pelo monarca D. João V caiem por terra mas, em 3 anos, o edifício será reerguido para albergar os cerca de 500 presos que ali existiam, contudo os tribunais não voltarão a ocupar este espaço.
Por esta terrível cadeia passaram milhares de desafortunados anónimos. Com certeza muitos vítimas dos seus actos violentos: ladrões, criminosos, homicidas… mas também muitos inocentes apanhados em meandros menos claros da justiça e ainda os culpados por defenderem pensamentos diversos dos regimes totalitários em que viviam.
Entre estes últimos merecem destaque os poetas Correia Garção em 1771 e Bocage em 1797, o pintor Domingos Sequeira em 1808 e o escritor Almeida Garrett em 1827.
A Penitenciária de Lisboa construída em 1885 não chegou para albergar todos os presos e apesar das críticas à falta de condições, aos incêndios que ali deflagraram em 1918 e em 1933 e às sucessivas obras ao longo das décadas seguintes, o Limoeiro continuou a funcionar.
Apenas em Julho de 1974, após a revolução de Abril a velha cadeia foi definitivamente extinta.
Em 1979 as instalações foram atribuídas ao Centro de Estudos Judiciários, local de formação de magistrados, que aí funciona até hoje.
A Bela-Sombra
O limoeiro que terá dado nome ao lugar há muito desapareceu. Hoje o antigo Largo do Limoeiro é marcado por uma Bela-Sombra, nome vulgar de Phytolacca Dioica, com cerca de 100 anos de idade. Uma árvore que muitos julgam ser um arbusto com características peculiares. A sua impressionante dimensão chama a atenção de todos e obriga a uma fotografia.
O Pátio do Carrasco
No antigo Largo do Limoeiro, no recanto em frente ao CEJ, um túnel dá acesso a um curioso pátio cujas origens se perdem no tempo. Referido desde os primeiros anos do séc. XVII como Pátio do Limoeiro e pela primeira vez em 1689, como Pátio do Carrasco. Este nome indicia que terá sido morada dos executores de pesadas penas, homens tantas vezes recrutados entre os condenados que aceitando este não menos trágico destino, viam as suas próprias condenações suspensas.
Sabe-se que existia ligação por um passadiço entre o pátio, a cadeia e a vizinha Igreja de São Martinho.
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Avistamento da Igreja de São Martinho
No antigo Largo do Limoeiro não existe hoje nenhuma igreja.
A Igreja de São Martinho, responsável pelo nome do Paço Real, Paço a-par-de São Martinho, foi construída em 1186, reedificada nos sécs. XVII e XVIII após terramotos e demolida em 1838 depois da extinção da pequena paróquia e da profanação do templo.
Mas mais uma vez a reciclagem de pedras ou mesmo o aproveitamento de paredes antigas nos surpreendem nesta cidade das Sete Colinas.
Numa posição muito particular podemos observar embutidas num edifício, as pedras da torre sineira.
Passe um destes dias pelo antigo Largo do Limoeiro e procure sentir e ver o que resta deste pedaço de história que agora lhe revelámos.
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