Na passagem dos 45 anos da revolução do 25 de Abril de 1974, mostramos-lhe um espaço muito marcante, o Museu do Aljube – Resistência e Liberdade.
Para assinalar o mês de Abril já lhe demos a conhecer o Museu da GNR que pode visitar no Quartel do Carmo, cenário onde teve lugar a acção central do dia da revolução.
Importa conhecer os factos e os lugares dos acontecimentos relevantes da história, mas é igualmente fundamental conhecer as causas que desencadearam esses acontecimentos. Por isso, hoje trazemos-lhe a musealização de memórias e testemunhos da resistência e combate à ditadura, em prol da liberdade e da democracia.
O regime ditatorial que dirigiu o país entre 1926 e 1974 pautou-se pela censura, perseguição, tortura, prisão e exílio dos seus opositores políticos. É necessário que estes factos não caiam no esquecimento e que sejam mostrados aos que não viveram esses tempos.
Para que estas práticas intoleráveis nunca se voltem a repetir; para que o testemunho dos que resistiram seja valorizado e nunca se perca; para que a liberdade que nos foi dada não seja posta em causa, é necessária a educação para uma cidadania plena e consciente.
O Museu do Aljube – Resistência e Liberdade existe, desde o dia 25 de Abril de 2015, com essa missão!
Uma visita a este espaço é obrigatória e não vai, certamente, deixá-lo indiferente.
O Edifício do Aljube
O Museu do Aljube – Resistência e Liberdade encontra-se instalado no imponente e sólido edifício mesmo ao lado da Sé de Lisboa, a caminho do Castelo.
Trata-se de um edifício do séc. XVI construído sobre antigas estruturas do período romano, mas o seu nome provém do árabe al-jubb que significa poço seco, cisterna, masmorra ou prisão.
Destinado a residência de um arcebispo, cujas armas ainda se podem observar na fachada, tornou-se, a partir de meados do séc. XVII, um espaço de cárcere. Foi prisão eclesiástica até meados do séc. XIX, depois secção feminina da Cadeia do Limoeiro e, a partir de 1928 e até 1965, prisão política da ditadura.
Entre 1928 e 1965 passaram por esta prisão cerca de 30 000 presos políticos.
Esta era uma cadeia de passagem, aqui os que tinham sido interrogados e torturados pela polícia política PIDE, aguardavam julgamento que teria lugar nos tribunais de Santa Clara ou da Boa Hora, sendo depois de condenados encaminhados para as prisões de Caxias e Peniche ou exilados para o campo de concentração do Tarrafal em Cabo Verde.
Que melhor espaço se poderia dedicar à preservação da memória do combate e resistência ao regime autoritário?
Talvez apenas as instalações da PIDE, na Rua António Maria Cardoso em pleno Chiado, onde tinham lugar os interrogatórios e as torturas, mas essas, infelizmente, foram vendidas e transformadas em condomínio de luxo.
Este facto levou à indignação de antigos presos políticos e cidadãos anónimos, que se uniram no movimento Não Apaguem a Memória. Apesar de não terem conseguido salvar esse espaço, chamaram a atenção para o problema da destruição dos lugares de memória, a sua necessidade de preservação e musealização. Neste contexto o Ministério da Justiça entregou as instalações do Aljube à Câmara Municipal de Lisboa para aqui instalar um museu.
Exposição do Museu do Aljube – Resistência e Liberdade
A reabilitação e adaptação do imóvel a espaço museológico, projecto do arquitecto Graça Dias, são notáveis. Atente na escolha de cores e organização do espaço, directamente comprometidas com a mensagem que se pretende passar.
O Museu do Aljube – Resistência e Liberdade conta com seis pisos, cinco de exposição (do -1 ao 3), e no último piso um auditório e uma cafetaria de acesso livre onde o visitante dispõe de uma magnífica vista sobre o Tejo e a Sé.
Pisos -1 e 0
Nos pisos -1 e 0 os visitantes tomam contacto com a história patrimonial do Aljube e alguns vestígios arqueológicos. É ainda o espaço onde têm lugar as exposições temporárias que o museu promove sucessivamente, reflexo do seu grande dinamismo.
Aqui o arquitecto contemplou simbolicamente a marcação do sítio do parlatório, única ligação dos presos com o mundo exterior.
Neste espaço tiveram lugar alguns casamentos uma vez que os presos apenas podiam receber a visita de familiares, donde ficavam excluídas as namoradas, noivas ou eventuais uniões de facto. Destes conta-se a troca de alianças entre o ex-presidente da república Mário Soares e Maria Barroso que pouco antes haviam casado por procuração.
Piso 1
Na primeira sala da exposição está contextualizado o regime ditatorial português em termos europeus e mundiais. Através de indicadores de desenvolvimento, como taxas de analfabetismo, acesso a serviços de saneamento básico ou mortalidade infantil, é facilmente perceptível o nível de atraso do país até 1974.
Segue-se uma apelativa história de Portugal entre 1890 e 1976 profusamente ilustrada com fotografias, imagens e outros documentos onde é abordada a questão da censura.
Também a imprensa clandestina e a vivência da resistência na clandestinidade, assim como a influência tentacular da polícia política sobre os tribunais, meros executores das suas orientações, estão patentes neste primeiro piso.
Piso 2
No piso 2 podemos conhecer os modos de organização da resistência à ditadura na clandestinidade e a preparação de fugas, algumas das quais ficaram muito conhecidas.
O funcionamento da actividade da polícia política e dos tribunais são também abordados neste piso: desde a detenção à condenação a prisão ou deportação para campos de concentração nas colónias, passando primeiro pelos terríveis interrogatórios, torturas e humilhações de que os detidos eram alvo, a fim de lhes destruir a capacidade de resistência.
A prisão do Aljube foi desactivada em 1965, pois a sua localização no centro da cidade, próxima da população ali residente, se tornava incómoda, uma vez que era demasiado evidente a violência que ali tinha lugar.
O local foi abandonado não sem antes ter sido feita uma “limpeza” de equipamentos móveis e imóveis a fim de eliminar os indícios das cruéis práticas e condições ali existentes.
Foi então necessário recriar parte dos curros ou gavetas, celas exíguas onde os presos podiam permanecer vários meses para que hoje possamos ter uma noção do sofrimento dos que por ali passaram. A reconstituição foi feita segundo os testemunhos dos que sobreviveram a este terrível cárcere, mas para uma sensação mais realista temos de imaginar como seria a sujidade, o cheiro e o clima de terror…
Piso 3
A exposição do piso 3 incide sobre a questão do colonialismo, a história dos movimentos de libertação e a guerra colonial. Está ainda presente uma homenagem a muitos dos opositores resistentes, vítimas mortais da repressão.
Destaque para o culminar da visita com uma magnífica instalação com centenas de cravos vermelhos e uma frase da poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen que celebram a conquista da liberdade com a Revolução do 25 de Abril de 1974.
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Uma Lição Obrigatória
Por mais terríveis que sejam os acontecimentos que aqui tiveram lugar, por mais claro e cru que seja o confronto com os factos, os testemunhos e o espólio expostos neste museu histórico, não saímos deste espaço derrotados ou deprimidos.
A visita é intensa mas a luz sempre vence as trevas e podemos perceber que a capacidade de sonhar e acreditar que podemos construir um mundo melhor foi e é possível.
Contribuem para esta ideia as inúmeras frases dos poetas que encontramos espalhadas um pouco por todo o museu. Frases que motivam à resistência, à luta e à esperança.
Opte por uma das muitas visitas guiadas que o Museu promove, leve os seus filhos e familiares mais jovens, ajude com isso a construir melhores cidadãos, garanta a sua liberdade.
O projecto getLISBON tem sido muito gratificante. Queremos continuar a revelar singularidades da apaixonante cidade de Lisboa.
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