Monumento ao Dr. Sousa Martins

Dr. Sousa Martins, o Santo Laico

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No cimo da Colina de Santana, em frente à Faculdade de Ciências Médicas, existe um monumento particularmente interessante, o monumento ao Dr. Sousa Martins.

Em seu redor encontram-se milhares de ex-votos de diferentes tipologias. Imagens em cera, placas de pedra gravadas com agradecimentos, fotografias, bilhetes, flores… testemunhos de curas e pedidos desesperados de intervenções milagrosas, que se foram amontoando ao longo dos últimos 110 anos. Ficou surpreendido?

Na base deste monumento observamos a alegoria da Ciência, personificada numa figura feminina que segura um livro, sentada em reflexão. Sobre uma alta coluna de pedra encontra-se a estátua de bronze de um homem que veste a toga de professor. Uma figura de pé, em atitude expressiva de quem conversa ou discursa.

Mas Quem É Sousa Martins? Porque lhe Dedicam Tamanha Devoção?

Retrato do Dr. Sousa Martins, Gravura de Francisco Pastor, cerca de 1900.
Retrato do Dr. Sousa Martins, Gravura de Francisco Pastor, cerca de 1900.

Aproveitamos a ocasião do aniversário do nascimento de José Tomás de Sousa Martins (7 de Março de 1843) para vos dar a conhecer este homem, famoso e estimado tanto pelas suas brilhantes capacidades e empenho profissionais como pelo seu carácter humano.

Nasceu em Alhandra, próximo de Lisboa, uma vila situada na margem norte do estuário do Tejo.

Com 12 anos veio para a capital, sob a protecção de um tio farmacêutico que o iniciou na arte do manuseamento das plantas. Formou-se em Farmácia com apenas 21 anos e em Medicina dois anos depois. Aluno destacado pelas suas notas cedo se afirmou pela qualidade dos seus trabalhos e como membro de diversas instituições de relevo científico.

Com uma carreira dedicada às vertentes práticas e teóricas da medicina, deu especial relevância à relação humana do médico com o doente. Uma das suas lições ficou particularmente conhecida quando defendeu que se um médico nada tivesse para aliviar o sofrimento de um doente lhe restava ainda um sorriso.

Era famoso não só como intelectual  e cientista brilhante, mas também pela sua posição social enquanto médico da Família Real ou como representante de Portugal em eventos internacionais. Mas tornou-se especialmente estimado pela generosidade e gratuitidade com que atendia aos menos afortunados, trabalhando incansavelmente nos hospitais, o que lhe valeu o apelido de Pai dos Pobres.

Teve papel de grande relevo na luta contra a tuberculose, doença muito activa no século XIX, estudando e defendendo a criação de sanatórios na região da Serra da Estrela, o que se veio a concretizar já após o seu desaparecimento.

A terrível doença que combateu, associada a uma lesão cardíaca, acabou por o vitimar. Aos 54 anos, confrontado com a inexistência de tratamento comete suicídio, deixando, nas palavras do rei D. Carlos I, o reino privado da sua maior Luz.



Um Culto que Hoje Ainda Permanece

Ex-votos à volta do monumento ao Dr. Sousa Martins
Ex-votos à volta do monumento ao Dr. Sousa Martins

Depois de percebermos o génio e a generosidade de Sousa Martins podemos conferir as suas qualidades nas palavras do poeta e escritor Guerra Junqueiro (1850-1923):

“Eminente homem que radiou amor, encanto, esperança, alegria e generosidade. Foi amigo, carinhoso e dedicado dos pobres e dos poetas. A sua mão guiou. O seu coração perdoou. A sua boca ensinou. Honrou a medicina portuguesa e todos os que nele procuraram cura para os seus males.”

Esta espantosa personalidade deu origem a um culto laico, mas não por isso menos imbuído de espiritualidade. O povo homenageia o génio e o carácter de um homem ímpar. O médico que, não raras as vezes, deixava para além das receitas dos medicamentos o dinheiro necessário para a sua aquisição.

As suas capacidades de curas miraculosas, que lhe foram atribuídas ainda em vida, estendem-se para além da sua morte. Sendo chamado a intervir, como se de um santo católico se tratasse, recebe os agradecimentos dos crentes que em datas de aniversário do seu nascimento ou morte, lhe  prestam  homenagem. Nessas ocasiões assistem-se a romarias, em Lisboa ao monumento de que falamos ou ao cemitério de Alhandra onde repousam os seus restos mortais, mantendo o culto vivo mesmo 120 anos após a sua morte a 18 de Agosto de 1897.

Algumas Curiosidades

Estátua de bronze do Dr. Sousa Martins, no Campo Mártires da Pátria
Estátua de bronze do Dr. Sousa Martins

A estátua de bronze do Dr. Sousa Martins, da autoria do escultor Costa Mota (tio), foi feita na fundição do Arsenal do Exército que se situava próximo do Panteão Nacional. O seu molde de gesso encontra-se aí exposto na Casa dos Gessos junto a outros dos quais se destaca o da estátua do rei D. José I da autoria de Machado de Castro.

O monumento que hoje temos no Campo dos Mártires da Pátria foi inaugurado em 1907 e é o segundo que lhe foi erigido. O primeiro, do escultor Aleixo Queirós Ribeiro, foi construído mas apeado pouco tempo depois após duras críticas. Neste o homenageado encontrava-se sentado numa cadeira na base do monumento com um livro na mão. Se por um lado apresentava uma atitude mais passiva, por outro, talvez a sua dimensão humana estivesse mais presente. A primeira proposta era mais próxima da linguagem Arte Nova, sendo a actual mais ligada a uma estética classicista.

Polémicas e gostos à parte, a personalidade do Dr. Sousa Martins foi, sem dúvida, merecedora de um monumento que o imortaliza nesta praça emblemática da Colina da Medicina.


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