Torre de Belém, o Ex-Libris da Cidade de Lisboa

Torre de Belém, o Ex-Libris da Cidade de Lisboa

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A Torre de Belém, edificada há mais de 500 anos, tornou-se o símbolo identitário da cidade de Lisboa. Classificada como Monumento Nacional e Património Mundial da UNESCO, é também uma das 7 Maravilhas de Portugal.

A getLISBON tem como principal foco, aspectos menos conhecidos ou explorados do património da cidade. Mas Lisboa também é feita de monumentos, ex-líbris incontornáveis que importa salientar e conhecer melhor. Foi o que procurámos fazer em O Arco do Triunfo da Praça do Comércio e é nesta lógica que este artigo se insere.

Sabia que o nome oficial da Torre de Belém é Torre de São Vicente de Belém e que na sua decoração original está presente a representação de um rinoceronte?

Fique a conhecer estas e outras particularidades.

Contexto Histórico

A Torre de Belém foi mandada edificar em 1513 pelo rei D. Manuel I. Desta forma o célebre monarca punha em prática o plano inovador de defesa de Lisboa do seu antecessor, D. João II. Este projecto previa, para além desta, a construção de outras duas fortificações, uma em Cascais e outra na margem sul do Tejo.

Assim, entre 1514 e 1520 a Torre de Belém tomará forma, substituindo um batelão fundeado a meio do rio que então servia de defesa.

O projecto terá sido entregue a Diogo Boitaca (c.1460-c.1528), Mestre das Obras do Reino, e a sua construção iniciou-se no ano seguinte. Contudo, em 1516 era já Francisco de Arruda (?-1547), Mestre do Baluarte do Restelo, o responsável pela obra.

Este famoso arquitecto participou nas construções da Sé de Elvas e de dois aquedutos também no Alentejo e, com o seu irmão Diogo, em edificações no norte de África: Mazagão, Azamor e Safim, de onde terá trazido algumas inspirações estéticas. Trabalhou ainda na construção do Mosteiro dos Jerónimos e pensa-se que poderá ser o autor, em 1523, da Casa dos Bicos.

Descrição da Torre de Belém

Torre de Belém in Vista e perspectiva da Barra, Costa e Cidade de Lisboa, Bernardo de Caula, 1763 (pormenor); Acervo: Biblioteca Nacional de Portugal
Torre de Belém in Vista e perspectiva da Barra, Costa e Cidade de Lisboa, Bernardo de Caula, 1763 (pormenor); Acervo: Biblioteca Nacional de Portugal, disponível em: http://purl.pt/13906

A Torre de Belém foi construída sobre um afloramento basáltico, totalmente dentro do rio, cerca de 250 metros afastada da margem. Se pensarmos que o rio chegava praticamente ao Mosteiro dos Jerónimos, como nos revelam de forma clara antigas representações desta zona, podemos ter uma ideia da distância e do desafio que terá constituído a sua construção.

O edifício de carácter militar é composto por uma tradicional torre medieval de planta quadrangular e um, então moderno, baluarte poligonal, fortificação de modelo italiano que decorre do aparecimento da nova artilharia piro-balística.

A torre, com cerca de 30m, apresenta cinco pisos ligados por uma estreita escada em caracol. À medida que subimos, atingimos sucessivamente: a Sala do Governador; a Sala dos Reis; a Sala das Audiências; a Capela e finalmente o terraço.

O baluarte possui 17 canhoneiras distribuídas por um magnífico espaço abobadado ao centro do qual se encontra um pequeno claustro.

Aspectos dos interiores da Torre e do Baluarte

A obra ficou concluída em 1520, tendo sido de imediato nomeado seu governador Gaspar de Paiva, 1º capitão-mor e alcaide. A este se deve a invocação do padroeiro da cidade, São Vicente. Assim, e apesar do seu nome oficial ser Torre de São Vicente de Belém, desde sempre todos a designam simplesmente por Torre de Belém.



Os Revivalismos da Torre de Belém

A Torre de Belém é em si um monumento ao reinado de D. Manuel I. Uma manifestação artística que, em articulação com o Mosteiro dos Jerónimos e a Capela de São Jerónimo, visa exaltar e eternizar esse momento particular da história. Uma afirmação de poder que este rei quis deixar para a posteridade.

Como não poderia deixar de ser, encontram-se presentes na sua decoração a esfera armilar, símbolo régio, e motivos náuticos como cabos e nós, tão caros ao estilo Manuelino.

Contudo, a maioria dos elementos decorativos, hoje ali presentes, não são originais. Estes resultaram de uma intervenção romântica, nostálgica e saudosista do séc. XIX, que transformaram física e simbolicamente este monumento, tornando-o o ex-libris de Lisboa.

O edifício, que há muito carecia de restauro, foi intervencionado entre 1845 e 1846 sob a tutela do rei consorte D. Fernando II. Foi então que, neste espírito revivalista, foram demolidas construções maneiristas do período filipino e acrescentados elementos como os merlões armoriados com a cruz de Cristo; a balaustrada do varandim sul; o claustro com platibanda rendilhada e pináculos torsos; e a imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso sob um baldaquino neo-gótico.

Este tipo de intervenção enquadra-se num momento particular da história sobre o qual pode ficar a saber mais em Uma Reflexão Sobre Restauro e Reconstrução do Património Artístico.

Merlões armoriados com a cruz de Cristo e imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso sob um baldaquino neo-gótico
Merlões armoriados com a cruz de Cristo e imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso sob um baldaquino neo-gótico

Decorações da origem deste monumento são, entre outros, os grotescos presentes no portal e a representação de um rinoceronte que se encontra esculpido sob uma guarita saliente no lado poente. Este rinoceronte é considerado a primeira representação de um animal desta espécie na Europa e remete-nos para o fascínio pelo mundo exótico e surpreendente, então revelado.

Nesse mesmo ano de 1513 chegou a Lisboa, oriundo da Índia, um rinoceronte que D. Manuel ofereceu, no ano seguinte, ao Papa Leão X. Contudo, a embarcação que o transportava naufragou. O seu corpo foi recuperado e empalhado e é com base na descrição deste animal que o artista Albrecht Dürer (1471-1528) realizou o seu famoso desenho de um rinoceronte em 1515.

Decoração de grotescos no portal e representação de um rinoceronte
Decoração de grotescos no portal e representação de um rinoceronte

Funcionalidades ao Longo do Tempo 

Com o tempo, a defesa estratégica da Torre de Belém foi perdendo importância e as suas funções foram variando. Foi aquartelamento de militares, prisão de nobres condenados, posto aduaneiro, telégrafo, farol…

Este importante monumento esteve em sério risco a partir de 1867, quando ao seu lado foi instalada uma grande fábrica de gás. Esta, apenas desapareceu na sequência de inúmeras demolições que abriram espaço à grande Exposição do Mundo Português em 1940.

Hoje a Torre de Belém acolhe no seu interior exposições e muitas vezes é pano de fundo de eventos oficiais, concertos de música, espectáculos multimédia ou festas.

A Torre Miradouro

O terraço que remata o edifício é um dos 8 miradouros em monumentos nacionais de Lisboa de que já lhe falámos.

Dali alcança-se uma magnífica vista de 360o.

Visitar a Torre de Belém é uma experiência interessante, imperdível para os turistas. Provam-no as filas que se formam no acesso ao monumento, uma vez que o número de pessoas que podem permanecer em simultâneo no seu interior é reduzido. Por esta razão é aconselhável adquirir os ingressos antecipadamente para reduzir o tempo de espera.

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Não se esqueça que nas proximidades, entre inúmeras atracções, pode comer um delicioso pastel de Belém, outro ex-libris da cidade… mas desta feita efémero!

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