É com enorme satisfação e gratidão que publicamos na véspera do início da 13ª edição do Festival TODOS, o testemunho do seu criador. Em Lisboa em Nós de Miguel Abreu, este produtor cultural lisboeta partilha connosco a sua visão desta cidade que não pára de o surpreender.
Sou lisboeta. Nascido e criado nesta bela cidade. Os meus pais e avós também eram de Lisboa. O nosso chão de família era, e é, Lisboa. Aonde sempre regresso e me tranquilizo. E me inquieto. Lisboa é uma cidade solar, luminosa, que se envergonha quando chove. Nessa relação com a natureza, Lisboa afirma-se repleta de contrastes e contradições, o que a transforma num organismo dinâmico e vivo, perfeitamente imperfeita.
Cansa-me pelas ruas íngremes e escorregadias, mas descansa-me pelos horizontes rasgados onde o Sol se deita, atirando-nos uma nostalgia inspiradora e criativa, particularmente emocionante, para mim, desde o Jardim do Príncipe Real. Lisboa e os seus miradouros, sempre em diversas perspetivas, sempre proporcionando outros olhares sobre a cidade. Aliás, Lisboa surge quase perfeita, quando vista de cima – o privilégio do olhar distante, do passageiro transformado em espectador, que observa, distante, os casarios da cidade, como se de uma pintura se tratasse, na aterragem de um qualquer avião.
Durante mais de uma década, entre 1984 e 1997, o café A Brasileira foi o meu escritório de produção; para aí marcava as minhas reuniões, os meus encontros; aí desafiava autores para a escrita de textos dramáticos, escolhia elencos para os espetáculos, imaginava projetos artísticos e culturais. Ainda não havia telemóveis, muito menos internet, nem Metro no Chiado e a gerência da casa, cúmplice com a minha presença quotidiana, recebia chamadas telefónicas para mim… “Miguel, podes atender uma chamada da RTP para ti?“ gritava-me o Carlos, empregado dedicado e bem-disposto.
O Chiado e o Príncipe Real continuam a ser os meus locais preferidos em Lisboa.
Mas, desde 2009, quando tive o privilégio de ser convidado pela Câmara Municipal de Lisboa para criar, e implementar, um projeto intercultural para a cidade, no caso o Festival TODOS – Caminhada de Culturas, tenho tido a oportunidade de descobrir outros recantos e encantos da cidade, fascinantes.
Tomei pulso à dinâmica cosmopolita e diversa da cidade mais turística, por um lado, e, por outro lado, afastei-me do seu lado mais burguês, descobrindo a força das suas populações mais populares, incluindo nestas os imigrantes. Foi a descoberta da Mouraria e do Intendente, da Rua do Benformoso e da cidade multicultural escondida por entre mesquitas, lojas e restaurantes clandestinos, cruzados com procissões católicas, fado e marchas populares.
Essa outra Lisboa é por sua vez diversa da Lisboa de São Bento. Por sua vez, radicalmente diferente da Colina de Santana ou da Graça e de Santa Engrácia, por onde Lisboa respira a outros ritmos. Ao mesmo tempo, paradoxalmente, tão parecidas as suas gentes, nos seus bairrismos, nas suas territorialidades.
Festival TODOS 2021
E que dizer da Lisboa que descobri este ano com a 13ª edição do TODOS 2021? A Lisboa de Santa Clara, à Alta de Lisboa, nos terrenos com achados paleolíticos da Ameixoeira, da Charneca e das Galinheiras, nomes que alguns políticos desejam apagar?
Toda uma outra realidade lisboeta onde se cruzam populações burguesas de condomínios de luxo, com rebanhos no seu pastoreio urbano, populações afrodescendentes e de etnia cigana, convivendo com artistas de circo, idosos alentejanos e nortenhos, com as suas hortas e as suas vistas desafogadas, ao lado de centenas de jovens, não fosse Santa Clara uma das freguesias com maior taxa de população jovem…
Um improvável miradouro de aviões, o restaurante Cantinho da Ameixoeira, a Feira e o Largo das Galinheiras, as igrejas setecentistas e as antigas quintas e seus palácios (Quinta Alegre e Quinta de Santa Clara, por exemplo), a Ameixoeira Velha, as ruínas escondidas do antigo cinema Estrela (um cinema piolho), a Banda Musical e Artística da Charneca, o Parque Agrícola da Alta de Lisboa, enfim, são dezenas os pontos de interesse para visitar, e fruir, no mais escondido território da cidade.
Caramba, Lisboa não pára de me surpreender. E lá bem do alto do Parque Agrícola, ou da parte alta do PER 11, não perca um outro pôr do Sol deslumbrante em Lisboa, que ainda lhe oferece a possibilidade de observar, pela noite, o céu de Lisboa com todas as estrelas a que tem direito.
Lisboa em Nós de Miguel Abreu | |
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Mini apresentação | Criador e diretor, desde 2009, do Festival Todos – Caminhada de Culturas, é produtor cultural desde 1987, ano em que criou a empresa de produção Cassefaz. Desde 1999 é presidente da Academia de Produtores Culturais. Foi diretor do Maria Matos – Teatro Municipal, programador de teatro no Centro Cultural de Belém, programador de teatro e diretor de produção de Faro-Capital Nacional de Cultura. Fundou o CENTA – Centro de Estudo de Novas Tendências Artísticas e é co-fundador da associação Fórum Dança. Tem em cena espetáculos dos quais é também encenador: Paiaçú, ou pai grande; Fragmentos do Fim; Cartas do Novo Mundo; Consentimento-a perda do paraíso. Prepara “Nevada, a americana que queria ser rainha de Portugal”, para o Palácio Nacional da Ajuda. |
Um local inspirador | Jardim do Príncipe Real (oficialmente Jardim França Borges), que permite avistar um pôr do Sol, único, sobre a Basílica da Estrela. |
Uma visita imperdível | Rua do Benformoso, para quem queira descobrir Lisboa multicultural; Museu do Lactário para quem deseje descobrir um museu inesperado e quase desconhecido, em Santa Apolónia. |
Água na boca com… | As iguarias do restaurante Tantura, na Rua do Trombeta (Bairro Alto), do Peixola (na rua do Alecrim) e o arroz-doce, com milho, no Cantinho da Ameixoeira (Largo do Terreiro, Ameixoeira) |
Uma música… | Com muita ironia, escolho Lisboa não sejas francesa |
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